sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Uma estrela no bolso


Foto do google


Nota: Escrevi este texto para uma criança feliz, que adora estrelas.



Era uma vez a estrela mais brilhante do céu. Chamavam-lhe as outras, João Cintilante.

Era filho de Joana Luz, estrela muito charmosa, e de José Brilhante, um tipo bem-parecido, que usava uma longa bigodaça de fogo.

O casal vivia muito juntinho, à distância quase nada de alguns milhares de anos-luz, ali para os lados de uma constelação conhecida.

João era a estrela dos olhos de seus pais.
Rapaz novo ainda, com poucos milhões de anos, crescia feliz, brilhando tão vivo que parecia que iluminava todo o universo.

Parecia… Pois João não tinha bem ideia, por ser tão novo, dos biliões de estrelas existentes à sua volta. Todas elas diferentes.

Sua mãe, moça jovem na altura, havia casado de amor à primeira vista. Ou seja logo que lançou um olho ao galã de brilhantina numa festa de fim de ano, que é como quem diz, de milénio, que as estrelas só comemoram de muito em muito tempo estas datas…

Desse amor nasceu rapaz reguila que gostava de brincar às escondidas, obrigando pai e mãe a fingir que não o viam, fosse possível a João esconder-se em qualquer lugar com o brilho que irradiava, e o petiz pegar numa choradeira de cometas.

Vivia feliz no seio daquela família.

Cada uma respeitava a liberdade da outra, que era agora o que faltava as estrelas não se darem bem entre si.

Mas um dia, sem que nada o fizesse prever, José adoeceu gravemente. Começou lentamente a perder o seu brilho, a ficar mais fraco, a cada milénio mais apagado.

Até que se apagou de vez. A sua luz extinguiu-se, desaparecendo numa ventania estelar que de repente soprou não se sabia de onde.

João ficou muito triste.

Nos primeiros tempos quase não falava com ninguém, brilhando intermitente. Sentia que era uma enorme injustiça seu pai se ter apagado, vogando agora frio pelo espaço.

Sua mãe, um dia, vendo-o tão triste, disse-lhe:

- Chega-te aqui para o pé de mim João, que te vou contar uma história.

João aproximou-se de Joana numa ternura que encantou os planetas próximos, e ouviu da sua boca:

- Era uma vez um menino que vivia num planeta chamado Terra. Há muito, muito tempo.

Esse menino tinha um amor especial por estrelas. Adorava-as.

Sua mãe, tal como eu, contava-lhe imensas histórias onde os personagens eram sempre estrelas, estás a ver?

João acenou com um dos seus braços de luz e sorriu cintilante. Sua mãe continuou:

- E sabes porque é que gostava tanto de estrelas e de conhecer as suas histórias?

- Não...

- Esse menino perdeu um dia o seu pai... Uma doença traiçoeira ceifou-lhe a vida.

- Como aconteceu ao meu pai, não é mãe?

- É sim, meu amor… e sabes o que a mãe lhe disse para que não ficasse triste?

- Não.

- Disse-lhe que o pai era agora uma estrela
cintilante no céu.

- Como eu, mãe?

- Sim filho, como tu.

1 comentário:

  1. Um bonito texto para explicar às crianças a dura realidade chamada "morte" ou "perda". Gostei! :)

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