quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Não posso com cronistas


A publicar na edição do Jornal Barcelos Popular de 07/10/2010

Não posso com cronistas

Não posso com cronistas. Gente que não pode com isto, que não pode com aquilo.
Uns fracotes: não podem com nada!
Não posso com quem é incapaz de se rir de si mesmo, que passa a vida a ver defeitos nos outros.
Não posso.
Não posso com aqueles que escrevem este tipo de crónicas nos jornais, mas depois reagem mal às críticas, ameaçam com tribunais aqueles que vão para as suas páginas na net insultá-los.
Não posso com esses e com os que fazem coisas que tais.
Não posso com quem só lê o título, com quem só lê o final, com quem lê na diagonal.
Não posso com escritores de m..., mais ainda com alguns invejosos que nunca escreveram porra de jeito que fosse na vida, mas acham que deviam ser eles a ganhar os prémios, a terem a sua croniqueta nos tais jornais a que chamam pasquins.
A inveja é uma coisa perigosa e mora sempre na porta ao lado.
Não posso com cronistas, antologistas, bloguistas. Não posso com teóricos, metafóricos, trotskistas.
Não posso com o Zé.
O Zé mau leitor, o Zé estupor, o Zé que vive por favor.
O Zé cronista dos dias sempre iguais, que bate na mulher e afoga as mágoas em bares banais. Que diz poesia em cima de uma mesa vazia, embaixador da azia, mas editado em antologia.
Não posso.
Não posso com os cronistas que escrevem para alvoraçar, para que o leitor meta a mão na consciência, se pense no ridículo, e também com todos que os querem amordaçar.
Bom autor de crónicas é o que faz do exagero a própria realidade sem tirar nem pôr, se faz maior a cada negação, a cada ameaça, a cada insulto, e nessa angústia escreve e ganha o seu próprio salvo-conduto.
É por estas e por outras que não posso comigo, contigo e com o outro:
- Com o preconceituoso, o ciumento, o invejoso. O cínico, o vaidoso e o seu analista clínico.
Bom autor de crónicas não é o que fala do amor, da felicidade, do sonho, de um mundo melhor. É aquele que mete a mão na ferida, em sentimentos tão humanos como a raiva, o ódio, a inveja, em todos os sete pecados capitais.
É por isso que eu, no fundo, no fundo, até nem desgosto de cronistas, não posso mesmo é com o meu país.

2 comentários:

  1. Ai está a razão porque admiro a tua escrita. Uma valiosa crónica onde mexes com o preconceito, com a inveja e a gabarolice, e o fazes da maneira mais verdadeira, a tua.
    Aquele abraço.
    António MR Martins

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  2. Obrigado António.
    Um abraço de amizade, que também é bom ouvir estas coisas.

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