sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ainda ontem me suicidei

Ainda sinto o sabor a queimado da pólvora na boca. No buraco que tenho na nuca plantei gerânios, planta de que só tinha ouvido falar de nome, mas que se entranhou bastante bem. Tenho, é dificuldade em conseguir per...ceber o homem vestido de bala, que intermitente, saltita levantando os braços. Para ser sincero, eu não me suicidei ontem, foi tudo um equívoco. Eu estava a limpar a arma com a língua. Esta que me faz disparar a torto e a direito, mais tiro menos tiro pela culatra. E foi o que aconteceu. A arma disparou um abutre negro recém-chegado, que nidificou no meu palato e agora vive de cadáveres. E tem vezes até, em que sonho que me estou a autopsiar. Quando chego ao fígado, aparece sempre um daqueles letreiros intermitentes de Motel, um néon rasca descarado nos corpos. E eu, num Cadillac que nunca tive, embalo desfiladeiros. E chego a pensar que a Rosanna Arquette não envelhece, e que vale a pena ter Hollywood numa jarra. Foto: Jorge Manuel Palha

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