domingo, 9 de janeiro de 2011

Nunca mais


Foto: João Luz*


Não se consegue escrever sobre o amor quando se ama. Tentar fazê-lo é falhar.
O amor é verdadeiro enquanto coisa dizível somente na ausência, na perda.
Poema que fale de amor experimentado é redutor, porque o amor vivido não precisa de poemas que o digam. É.


Nunca mais

Nunca mais te verei sorrir, já decidi

Nunca mais te esperarei

Faltarei a todos os encontros que te prometi



Nunca mais o beijo

Nunca mais o afago

Sequer o ensejo de um braço-dado



Nunca mais a rua sem fim

Uma promessa de filhos

Dois anjos e um arlequim



Nunca mais o calor do teu corpo

O suor apertado dos espartilhos

Um tempo de amor num tempo morto



Só esta vontade de rasgar o peito

De não ter rumo, nem sorte

E ser o amor tão imperfeito como a morte




* João luz é meu amigo e colega. Um excelente fotógrafo e artista.
É responsável pelas fotografias de capa dos meus livros:
«Contos de Água e Areia» - 2008
«Os poemas não se servem frios» - 2010

3 comentários:

  1. *Quanta verdade fecunda entre teus versos.
    Admiro a nudez do sentir que absorvo da tua escrita.
    Tua Palavra é viva, real e venal, tal um doce veneno, pois atinge o âmago de quem te lê, portanto por vezes dói, mas por vezes adoça.
    Sinto isso como algo positivo, pois tu trazes desassossego, desconforto, tiras-me do lugar-comum. Toca!
    Parabéns pela transparencia, pela tua obra magnífica.
    Sou uma admiradora silenciosa do teu dom de escrever.
    Abraços de admiração.
    Karinna*

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  2. Só esta vontade ou falta dela

    De não ter rumo, nem vela

    nem azar nem sorte

    E ser a vida tão imperfeita na morte

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  3. Parabéns pelo blogue e por todos, mas todos os textos!

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