domingo, 3 de abril de 2011

O Sol quando nasce não é para todos…


Foto: Jorge Manuel Palha

A Terra, no seu movimento em torno do próprio eixo, é responsável para que isso não seja logo assim. Enquanto para alguns é dia, para outros é noite escura.
Mas se colocarmos de lado as causas astronómicas, já a afirmação anterior não é rigorosamente verdadeira, pois que muitos vivem na escuridão durante o próprio dia.
A esses eu chamo de «apagados»…
Nesta classe cabem, entre outros, todos os indivíduos cujo cérebro é anterior a Galileu e que, ainda hoje, pensam ser o centro do universo.
Dos mais conhecidos, os políticos. Um género de «apagados» que neste país vêm proliferando com inusitada adaptação.
E é estranho que as plantas e os seres vivos necessitem da luz solar para o seu crescimento e estes espécimes prescindam dela, multiplicando-se como coelhos fornicadores.
Pensam os eleitos que são irradiadores de luz própria, qual sol sobre a terra, expandindo a sua grandiosidade ao universo.
Tomam decisões em nome do povo cinzento, esbanjam o erário público como burgueses assolapados, impondo depois, quando os cofres estão vazios, sacrifícios aos contribuintes, quais xerifes do tempo de Robin dos Bosques.
E o pior é que na sua megalómana ambição por poder, julgam-se iluminados nas decisões, legitimados, honrados, divinos.
Vivem nas Lisboas usurpadoras, deslocam-se em topos de gama, são apaparicados por assessores lambe-botas. Comem nos Tavares, comem onde bem entendem, comem-nos por lorpas.
E anda a malta preocupada em tirar esta «corja» do poder para lá meter outra igual?
Não está só na política mas espalhada em todos os sectores da vida portuguesa. Da economia à cultura.
A «corja» veste Armani, veste Armando.
Estou em crer que falta luz a este povo, mesmo que não lhe faltem EDP´s e Ren’s e contas e contas e contas…
A longa noite da ditadura parece eterna.
Falta-lhe uma luz que não é solar mas interior, falta-lhe consciência disso, falta-lhe horizontes para além dos horizontes da sua janela.
Essa luz só pode resultar do conhecimento, da literacia, da educação plena. Só assim se conseguirá promover o espírito crítico, a mudança.
No último dia 12 de Março, apesar das nuvens, fez-se sol sobre Lisboa. Um sol nascido faz tempo para quantos se reuniram na Avenida da Liberdade.
Um sol que vem de acreditar, de desejar um Portugal melhor. Um sol farto.
Farto de políticos, farto de patrões malandros e malandros patrões, farto dos «chicos-espertos» que estão por todo o lado. Mesmo na cabeça do meu colega de letras e ilustre comentador, que também come no Tavares e tem Tavares no nome.
Precisava o ilustre romancista de saber daqueles que vivem na utopia, de lhes conhecer o suor e o esforço. Dos que lutam pela afirmação artística num país de artistas instalados.
Mas não, sua Excelência, enquanto bom «opinante», está demasiado ocupado a ver o Sol raiar no umbigo de Copacabana.
No último dia 12 de Março, apesar das nuvens, apesar da escuridão… no Porto, em Braga, em Coimbra, em qualquer lugar deste país onde se partilhasse esperança, fosse até na mais recôndita aldeia de dois habitantes, discutiu-se Portugal.
Eu não esqueço a Luz desse dia. Estava em Lisboa, bem perto dos acontecimentos, a dizer poemas num auditório para alguns, poucos, amigos e escritores.
Diz quem assistiu, que eu tinha os olhos brilhantes, mas o que eu tinha mesmo era a certeza do caminho pois, como diz Bach, «Aqueles que não amam a mudança não são, no fundo, verdadeiros visitantes da Terra».
Por isso o Sol quando nasce não é para todos, é só para quem o consegue alcançar…

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