quarta-feira, 13 de abril de 2011

O AMOR NÃO É PARA TODOS



Texto de : José Ilídio Torres
Fotografia: Tela de Ção Pitada

O Amor não é para todos e ainda bem. Seria uma tragédia se não fosse assim.
O Amor é para poetas, profetas e outros patetas. Distribuído sem critério. Não existe sem o seu oposto, o ódio, e vivem mesmo em conluio.
A expressão «quanto mais me bates mais eu gosto de ti», excluída a dimensão de poder por força da violência exercida por uma das partes, resume uma realidade que habita a casa de muitos.
Quem é que já não beijou apaixonadamente o outro depois de uma acalorada discussão, depois até de levar dois tabefes?
Quem é que não fez amor com mais intensidade, com mais paixão, depois de um empurrão contra a bancada da cozinha?
Não deve passar daqui o leitor que me acha capaz de promover ou defender atitudes machistas ou violentas, mas deve continuar a ler aquele que percebeu que não estou a colocar a tónica no género masculino, mas a generalizar perigosamente…
A mulher de hoje não é a mesma de ontem.
Parece-vos redundante a expressão?
A de hoje não come e cala. Bate ela própria. Mais não seja quando usa a sua maior arma: - A língua.
Uma mulher ferida no seu orgulho e dignidade é capaz de socar violentamente com esse órgão:
- Não preciso de ti para nada!
- Ganho que chegue para mim!
- Homens há muitos e mais enchapelados!
Logo depois chovem pontapés que misturam sogros, filhos, contas bancárias, profissionalismo no emprego!
A mulher de hoje não é a mesma de ontem, muito menos a de anteontem.
É uma mulher liberal, «cabra» em muita literatura, nua sem pudor.
Gosto dela assim.
A sua maior grandeza é mesmo amar, mas mulher que ama é uma bomba-relógio. Mais dia menos dia, ano menos ano, deflagra.
O homem de hoje ainda não se habituou a esta mulher. Acha que lhe continua a bastar sair para trabalhar, tirar os sapatos na sala quando chega, alçar a perna…
Acha suficiente uma ou duas sessões de sexo por semana, considerando-se um entendido na matéria, apesar de não ensaiar mais que duas posições na cama faz tempo.
Mulher que é amada assim é um perigo.
Um dia perde a consideração pelo animal embalsamado que faz a barba e larga pêlo no lavatório, que deixa as cuecas postais no chão da casa de banho.
Já houve casos de lâminas mutiladoras a rasgar o silêncio e o sono do cônjuge. Mas isso são casos raros. O mais comum mesmo, é que a mulher assim esquecida, vilipendiada, um dia aceite o convite do sorridente do escritório para sair, com a desculpa de trabalho até mais tarde, ou comece a falar em jantares disto e daquilo…
Normalmente, o que ficou em casa a ver a Sportv e a beber umas cervejas não se dá conta e, já diz o povo e com muita sabedoria, «é sempre o último a saber…».
Uma tragédia…
Mas dirá o leitor com muita razão, que há quem ame com sentido de partilha, de dedicação ao outro. Com a generosidade própria dos apaixonados…
Há! Costumam aparecer no programa da Fátima Lopes ou de outra esganiçada qualquer do celulóide, e no final, ficam rodeados de flores e filhos e netos, e beijinhos e lágrimas, do alto dos seus setenta anos de vida, bem dançadinhos e agarradinhos nos bailaricos dos Bandeirantes ou similares…
A homenagem que se lhes presta é a mais pimba que se lhes pode fazer. Ouvem-se os amigos, os conhecidos e os vizinhos, mais a filha da professora primária que já morreu a dizer que a sua mãe falava sempre muito bem deles.
É por isso que o amor não é para todos. Que o digam as prostitutas e os prostitutos deste mundo quando se apaixonam pelo seu cliente.
Que o digam os chulos, os pederastas, quando se perdem de amores pela sua protegida.
Que o digam uns poucos apatetados, uns quantos futuristas e alguns poetas libertários.
O amor é uma doença estranha e rara sem medicação subsidiada. Conhecem-se efeitos secundários, contra-indicações, mas apenas na sua prática.
A cura, encontre-a cada um.

1 comentário:

  1. Saudades imensas de te ler, meu bom e velho amigo.

    Beijo extensivo às crianças.
    Tua amiga
    Mel

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