terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Poema para o Ary



José Carlos Ary dos Santos
Poeta português, natural de Lisboa. Saiu de casa aos 16 anos, exercendo várias actividades como meio de subsistência.
Revelando-se como poeta com a obra Asas (1953), publicou, em 1963, o livro Liturgia de Sangue, a que se seguiram Azul Existe, Tempo de Lenda das Amendoeiras e Adereços, Endereços (todos de 1965). Em 1969, colaborou na campanha da Comissão Democrática Eleitoral e, mais tarde, filiou-se no Partido Comunista Português, tendo tido uma intervenção politizada, mas muito pessoal.
Ficou sobretudo conhecido como autor de poemas para canções do Concurso da Canção da RTP. Os seus temas «Desfolhada» e «Tourada» saíram ambos vencedores. Em 1971, foi atribuído a «Meu Amor, Meu Amor», também da sua autoria, o grande prémio da Canção Discográfica. Declamador, gravou os discos «Ary Por Si Próprio» (1970), «Poesia Política» (1974), «Bandeira Comunista» (1977) e «Ary por Ary» (1979), entre outros. Publicou ainda os volumes Insofrimento In Sofrimento (1969), Fotos-Grafias (1971), Resumo (1973), As Portas que Abril Abriu (1975), O Sangue das Palavras (1979) e 20 Anos de Poesia (1983). Em 1994, foi editada Obra Poética, uma colectânea das suas obras.
Personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música popular portuguesa. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções.
In: www.astormentas.com/ary.htm

Poema para o Ary

Olha quem ali está ao meio
E das palavras se alevanta
Madeixa sobre o rosto cheio
Em voz forte de quem nos canta

É o Ary, poeta de capote
À desfolhada de um sentir
Que do verbo faz o mote
Ser, fazer e construir

Olha quem ali canta a militância
Num cantar de putos feito
Quem nos afaga na constância
De um coração a bater no peito

Olha quem anda em nós à solta
Cavalo sem rédeas, chão de cidade
É o Ary da nossa vida toda
A pintar com palavras a verdade

Viverás eternamente a desgarrada
De quem arriscar o que escreva
De quem ame a vida na vida amada
E na morte pela vida se atreva

Olha quem ali está ao meio
E pelas palavras se agiganta
Um poeta sem epitáfio nem rodeio
A soltar-se livre da tua garganta

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