domingo, 21 de novembro de 2010

O preservativo. Solução milagrosa



Cartoon de António

Bento XVI acaba de "autorizar" o uso do preservativo em casos pontuais, casos sobre os quais ainda não estou perfeitamente elucidado, mas que presumo se reportem a doentes infectados, ou a individuos que se apresentem notoriamente incapazes de usar o cérebro...
Dirão os mais esclarecidos que a medida representa uma revolução no pensamento cristão, desde sempre agarrado ao sexo reprodutivo, chutando para o plano do pecado todo o comportamento impróprio, dentro ou fora do casamento.
Sobre esta coisa do sexo com o fim único da reprodução, teve a grande Natália Correia discurso na Assembleia da República que entrou para os "anais" do bem dizer, estendendo ao comprido a falsa moralidade reinante.
Realmente, devemos ser muito agradecidos à Igreja por ter estado sempre um passo atrás no desenvolvimento do pensamento e das sociedades. De ter queimado na fogueira grandes pensadores, cientistas. Homens fora do seu tempo, dirão vocês, homens castrados à força, direi eu.
Devemos agradecer-lhe a forma determinada com que evangelizou, como sempre se aliou ao poder dominante, mesmo apregoando um outro reinado. A forma como sempre retirou ao homem a capacidade de aspirar a um novo dia, mesmo que a fraternidade e a igualdade pregadas, tivessem por perfil um Deus entre a bonomia e a vingança, e apesar disso.
Uma igreja de cariz social a de hoje, é aquilo que se exige. Mesmo que remende as perversões do sistema numa sopa dos pobres. Mas que o faça.
Que mostre o seu lado solidário e caritativo, e venda se preciso for o fausto que a caracteriza. Que seja uma igreja despojada se necessário, mas que esteja do lado do homem e não um passo atrás.
Que se diga presente nestes tempos de esvaziamento ideológico que caracteriza as sociedades ocidentais, que ampare, que guie, mas por forma a contribuir para um discurso humanista, de elevação do homem, e de uma verdadeira moralidade.
Tal desiderato só será possível se as fundações desse trabalho árduo tiverem por matéria prima a necessária compreensão dos problemas de cada momento, de cada época, e seja esse o desafio.
É por isso que esta nova liturgia do preservativo peca por tardia, tem demasiadas mortes nas costas, demasiados filhos largados. Está prenhe de um contínuo alheamento das questões fundamentais, de uma falsa moralidade que a corrompe no seu cerne.
Os escândalos sexuais repetem-se na Igreja, tradicionalmente capaz de se fechar sobre si mesma, abafando as repercurssões sociais dos seus pecadilhos. Porém, todos os dias os jornais fazem parangongas com a pedofilia dos seus padres, todos os dias esta igreja parece afundar-se na sua própria e específica moralidade.
Será por isso que Bento XVI, um Papa apelidado de conservador e austero, mas que parece a cada dia descobrir virtudes no seu antecessor, se mostra insuspeitamente aberto, informal e sorridente?
Se João Paulo II foi caricaturado pelo grande António com um preservativo no nariz, Bento XVI, deveria sê-lo calçando-os nas duas mãos, pois tem nelas o peso de um recém-nascido, e a necessidade de ser parteiro de um novo advento.
Ao homem do seu tempo, não resta afinal que estar um passo à frente dele, e assim, nestes tempos perversos de democracia, saber sempre o que o espera, numa espécie de desencanto auto-preservativo.
Nunca os poetas foram tão verdadeiros, nunca o amor tão urgente.


É engraçado como um simples preservativo, no fundo, me fez desviar tanto do objectivo desta crónica. Coisa simples de usar, que afinal basta enfiar na cabeça.

Sem comentários:

Enviar um comentário