domingo, 28 de novembro de 2010

Mandei dizer que te amava pelos gatos do beiral




Foto: João Luz
«Meu gato morto olha para mim do além...»



Sabes, ainda pensei escrever-te uma carta

Enviar-te um ramo de prosas que me nascem nos

dedos

Ou simplesmente fruta do quintal

Mas tive receio que não compreendesses o Braille

dos meus degredos

A forma crua como faço música com as lágrimas

Nos acordes despidos dos vinhedos



Ainda pensei se não seria o caso de te falar

pelos ramos das árvores

Pelo Às das suas copas

Se não estaríamos no tempo de fazer regressar as

tropas



Mas depois, quando lavrei a terra que se juntara

em volta do meu coração

Senti que me faltava a semente do teu beijo

E sabes que eu sempre te sonhei pela boca, fio de

água



Germina então comigo neste inverno, mão na mão

Tudo aquilo que sempre nos faltou afinal

Agasalha-te neste relento, neste desejo, nesta

frágua

Que já mandei dizer que te amava pelos gatos do beiral

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