
Foto: João Luz
«Meu gato morto olha para mim do além...»
Sabes, ainda pensei escrever-te uma carta
Enviar-te um ramo de prosas que me nascem nos
dedos
Ou simplesmente fruta do quintal
Mas tive receio que não compreendesses o Braille
dos meus degredos
A forma crua como faço música com as lágrimas
Nos acordes despidos dos vinhedos
Ainda pensei se não seria o caso de te falar
pelos ramos das árvores
Pelo Às das suas copas
Se não estaríamos no tempo de fazer regressar as
tropas
Mas depois, quando lavrei a terra que se juntara
em volta do meu coração
Senti que me faltava a semente do teu beijo
E sabes que eu sempre te sonhei pela boca, fio de
água
Germina então comigo neste inverno, mão na mão
Tudo aquilo que sempre nos faltou afinal
Agasalha-te neste relento, neste desejo, nesta
frágua
Que já mandei dizer que te amava pelos gatos do beiral
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