domingo, 14 de novembro de 2010

Há em cada artista um filho indesejado de Deus



Foto: joão Luz «Shadow and reflection on clean water»


Há em cada artista um filho indesejado de Deus. O tempo não passa de um miserável embuste. Mulheres de ancas largas, divinas putas do criador, parindo os minutos que têm as horas, que têm os dias.
Há em cada homem fora do seu tempo, um filho sem pai, um enjeitado colocado numa roda, um fruto indevido do acaso.
Se pela arte se pode atingir Deus, e se assim o dizem, eu espero que alguém já tenha sido capaz, por obra feita, de o socar no rosto e de lhe partir dois dentes.
Rais parta o tempo que demora cada homem a encontrar a liberdade, neste sexo demorado com o cosmos.
Rais parta a bonomia com que se encara a guerra, os perversos movimentos da economia. Rais parta o conformado, o temente.
Há em cada artista um filho indesejado de Deus, um salteador do tempo, mesmo que a paga seja esta quase solidão, e invariavelmente a morte.
Há, quero crer, em cada homem um Deus, capaz de amar incondicionalmente a puta que o pariu: Mãe terra de ancas largas.
Escrever como quem morde, e morrer, morrer em cada fracção de tempo, numa ressureição permanente dos sentidos, subtraindo segundos à eternidade.
Como um rapaz de fisga disposto a matar.

1 comentário:

  1. sim.em cada artista,"um salteador do tempo".e em cada homem um deus,um rapaz,capaz de amar,de matar,de morrer e renascer. eternamente.

    ResponderEliminar