quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um pássaro de certeza que pode ser uma vaca com asas


Foto: António Jorge Fernandes «Vigilante»

Nasceu-me um pássaro gago numa gaiola. Nem perguntei porquê.
Havia uma senhora que os tinha a três á coroa num viveiro. Vendiam-se como ostras.
Comprei três ovos que pareciam pérolas. Um guardei debaixo da língua. Chamei-lhe Alfredo.
Dos outros dois não soube mais nada.
Constou-se que os troquei a um marroquino por um cachimbo de água.
A verdade, é que todas as noites em que eu e o Alfredo, meu filho, nos sentamos à lareira daquilo que podíamos ter sido, um pássaro canta no relógio de cuco lá ao fundo.
É o fumo dos dias, que nos entra pelas goelas do mundo.

sábado, 26 de setembro de 2009

Quando eu for um pedinte sujo e andrajoso


Foto de António Jorge Fernandes «Vidas»

Quando eu for um pedinte sujo e andrajoso, dá-me esmola sem olhar. Depois, retira-te para dentro da tua felicidade até me voltares a encontrar. Estarei à hora certa das memórias, malcheiroso nessa esquina de nós.
Farei poemas em papel de merceeiro e venderei a retalho os dedos, pendurando todos os meus segredos na corda que me há-de enforcar.
Se a polícia vier, direi que sou um pobre diabo, meus poemas não servem sequer para limpar o rabo.
Se me baterem, hei-de guardar cada nódoa negra como relíquia de outras vidas, expor meu corpo por todo o lado.
Hei-de sentar-me na primeira fila da catedral, enojando as velhas carcomidas, hei-de papar a hóstia para escapar à fome.
Se me deixarem, talvez invada o púlpito. Se tiver força arranque até com as mãos o Cristo da cruz.
E os santos, se forem boa gente, lançarão pragas sobre quem não sente e farão justiça na casa de tão bô home.
Se me excomungarem, não apareçam depois com desculpas na hora da minha morte. Que todos têm direito ao perdão…Que basta uma só palavra…
A ser salvo, só eu decidirei se quero, morrer de verdade na terra ou de mentira no inferno.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Último pensamento


Foto: António Jorge Fernandes

Metade de mim é tempo, a outra metade a falta dele.

Dança comigo amor


Foto: António Jorge Fernandes

Num passo dado que pedia um doble, o teu sorriso vestia longo. E eu, bem engomado, quase todo desalinhado, acertava contigo o tempo.
O nosso compasso era dobrado, um allegro moderato que podia ser de Outono.
Trazias nos olhos metade daquilo que te amo, e na boca o resto.
Lembro-me de te afagar as costas e desabrocharem-me ouriços das mãos. Depois, com medo de te ferir nesse desejo, pedia-te emprestado o vento para me dizer.
Por isso enlaça-te no meu beijo, bebe-me. Sou a marcha lenta do lagar, indiferente de quem o pisa. Uma cantiga entoada que cheira a esperança.
Sou vinho fermentado, um rubro paladar de palavras nesta dança.

Escondam as criancinhas que vem aí o comunismo do Bloco de Esquerda


Tenho por vezes vergonha das gentes do meu país, que continua analfabeto e inculto. Mas mais me entristecem aqueles que o governam em seu nome. Uma casta miserável de políticos que não hesitam em remexer no mais hediondo ideário de estupidez, para fazer ressurgir fantasmas do passado, como se fossem imperadores do medo, da moral e do bom costume.
À merda.

domingo, 20 de setembro de 2009

Outonos



Foto: Banhistas - António Jorge Fernandes

Com o Outono a fazer-se anunciar pelas coisas habituais, sempre me fica a sensação de que isso é uma partida de Deus. Mais uma.
Na hora certa as castanhas, mesmo as mais tardias. O vinho a fermentar na cuba.
Do Verão de mim é também tempo de colher os frutos. Poemas, textos e outras coisas em prosa.
E depois, quando ao longe se anunciarem as tesouras de poda, estenderei os braços para que mos cortem pelos ombros. Serei um enxerto nas cinzas e renascerei dos escombros.
De uma certa forma é sempre Verão para quem não tem medo de morrer, disposto a colocar-se à prova no que ainda está para acontecer.

sábado, 19 de setembro de 2009

Exercício


(Foto do arquivo do autor...)

Tenho um quase medo de me repetir, por isso escapo antes do eco, antes do grito. O fim da minha rua é um palácio muito parecido com um circo.
Há um comboio fantasma que me leva e traz em viagem de mil espelhos, caras destorcidas em sorrisos, novos com caras de velhos.
Pelas vidraças passam poemas como se fossem postes, a iluminar as cidades dos que são sozinhos.
Sou o maquinista e o guarda da linha. Entre um e o outro há uma cumplicidade que prescinde das palavras na feitura das histórias.
Avançar, significa ensaiar caminhos.
Escrevo para adivinhar memórias.

Cada um é como cada qual



Encontrei esta imagem e ganhei um sorriso para partilhar.
(Desconheço a autoria)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Primeiro post(e)


Foto do meu amigo Jorge Fernandes

O meu coração cabe naquilo que o sol desta manhã prometeu, é uma bola que saltita.
Os meninos chutam-na divertidos no largo da igreja, marcando balizas entre o sonho e a realidade. Depois, só é golo se Deus quiser, que se senta comendo fruta junto á bandeirola de canto, por vezes distraído, deixando ao livre arbítrio a felicidade mais pura que há nas coisas simples.
Vejo-os correr para a bola que lhes bate no peito, como um coração que rola, fintando tantas vezes as suas próprias emoções, os seus desejos de vitória.
Um golo na própria baliza acontece junto com a troça. Nada de importante, nada que o tempo não apague. Amanhã verás, mesmo que amanhã não exista por agora.
E depois, um dia mais tarde, sabendo o teu papel em campo, poderás arquitectar as fugas, e saber até de que cor é a esperança.
É branca, quase da cor da relva, um rectângulo de emoções a cumprir-se por palavras.

A minha editora


http://www.temas-originais.pt/autores/jose_ilidio_torres.htm

Novo site, nova vida



«Diário de Maria Cura»
Este é o meu terceiro livro. Uma novela ou romance policial não o sendo.
A Editora é a temas originais.
O livro está á venda um pouco por todo o país.
Uma visita à minha página no site da editora dará todas as informações para a compra deste livro se assim o entenderem.
Criei este novo blog com o intuito de divulgar um pouco da minha escrita. Prometo ser assíduo na tarefa de editar aqui, poemas, textos, excertos e outras coisas que me dêm na gana.
A escrita é a minha vida e este lugar está aberto à participação de quem a sinta e a saiba amar.
Um abraço