sábado, 31 de outubro de 2009

Amas-me?


Foto: António Jorge Fernandes

Se me amares vais ter que me rasgar o peito. Depois, com a ajuda das pinças que te nascem dos dedos, abrir caminho pela pleura. O bisturi calejado para que não cortes nenhuma artéria.
Se me amares, vais ter que me sentir quase todo pelas veias. Rasgar-me por fora e por dentro para que percebas quem fomos, a meias.
Se na minha boca não houver hemorragia, podes beijar-me até não sobrar tempo, caso contrário, coze-a com fio norte e dedica-me uma reza gasta.
Se o meu coração parar de bater é porque estou de regresso. Acolhe-me como quem perdeu um filho e grita comigo.
Pode ser liberdade, se a ideia não te parecer vasta.
Sabes o que há sempre um coração pulsante para além da morte. Para além dos medos e da sorte que sentimos?
Imortal a palavra que circula em nós pelo sangue.
Amas-me?
Então, pergunta-me uma outra vez de onde vimos.

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