sábado, 3 de outubro de 2009

Soneto ao contrário


Foto de António Jorge Fernandes - «Unissono»

Nada me sobra, tudo me falta
Se amo com raiva e odeio com doçura
Por um coração que de tão quieto salta

Do poeta o homem mais a loucura
Do homem uma ave peralta
Desasada em fogo na sua envergadura

Meu anseio afogar-me no teu peito
Asfixiado em tudo o que não me dás
Enforcado nos lençóis do teu leito
Morte doce que me leva e traz

E se amanhã não for mais assim
E me faltar tudo o que já me sobra
Começarei então os poemas pelo fim
Serei maçã mordida e tu serás a cobra

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