quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A noite era de queijo, veio um rato e roeu-a


«Grandeza» António Jorge Fernandes

A noite era de queijo, veio um rato e roeu-a. O guarda nem sequer deu por ela. Adormeceu na sua velha cadeira de baloiço, e dela para o dia.
Numa das ratoeiras que armou, o silêncio foi apanhado pelo pescoço.
Intrigado, pois nenhum barulho se ouvia na fábrica, sequer o dos seus passos, concluiu que o rato que lhe fugia havia roído os trabalhadores.
Sobravam-lhe máquinas na sua solidão, e lá fora pela janela que imaginou, havia um vapor parado.
Fumou a angústia num cachimbo de água que improvisou de uma viela, e ficou ali sentado, numa cadeira de baloiço que ía e vinha no tempo, imaginando um futuro já passado.
Na noite seguinte à última noite, havia um poema que precisava ser escrito.

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